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domingo, 11 de março de 2012

Na cadeia do petróleo, a locomotiva paulista ainda não está nos trilhos



 Muito se fala dos mais de US$ 400 bilhões que serão injetados na cadeia do petróleo nos próximos  anos, em um dos maiores programas de investimento do mundo. Somente a Petrobras investirá em média anual de US$ 42,5 bilhões no período 2010-2014. Apenas a título de comparação, os investimentos dos Estados Unidos em sua indústria espacial foram da ordem de US$ 18 bilhões em 2010.
      Fala-se também que a indústria nacional não está preparada para atender nem 40% da demanda projetada e que o Brasil corre o risco de ser atingido pela “maldição do petróleo”, como aconteceu em vários países, com a destruição de sua indústria de base e uma invasão pelas empresas estrangeiras. Outros aspectos preocupantes são o “apagão de mão de obra” e a falta de isonomia na competição com os produtos estrangeiros.
      Para que as empresas nacionais possam tirar proveito dos grandes investimentos a serem realizados, evitando-se os problemas apontados acima, elas têm que ser protegidas e capacitadas, como ocorreu nos países do Mar do Norte. Hoje, com o a produção em declínio, as empresas destes países, maduras e bem estruturadas, vêem no Brasil um excelente mercado e aqui aportam para disputar com as empresas brasileiras não apenas os contratos de fornecimento, mas também a nossa mão de obra, o nosso “know how” e o capital intelectual envolvido no processo de negócio.
      Vários programas têm sido desenvolvidos no sentido de preparar a indústria brasileira, valorizando o conteúdo nacional. Ressaltamos aqui a enorme importância da atuação da Petrobras, do BNDES e de entidades como o SEBRAE. Importante também é a atuação das federações de industrias (como a FIRJAN no Rio de Janeiro, a FIEPE em Pernambuco e a FIESP/CIESP em São Paulo), das associações setoriais (ABIMAQ, ABINEE, etc.) e também os programas como os desenvolvidos pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC, em São Paulo. Todas estas iniciativas visam organizar e capacitar as médias e pequenas empresas para uma maior participação na cadeia do petróleo.
      Em paralelo, as próprias empresas estão se organizando, através das Redes Petro. Existem hoje dezesseis destas entidades, organizadas em nível nacional na Rede Petro Brasil. As Rede Petro, além de promoverem o desenvolvimento de oportunidades de negócios para os seus associados, têm como objetivo ajudar as outras organizações envolvidas, como a Petrobras e o SEBRAE, nos planos de curto, médio e longo prazo para que empresas brasileiras tenham uma atuação cada vez mais forte na cadeia do petróleo.
 
A indústria paulista neste cenário
      A indústria paulista já foi considerada a “locomotiva do Brasil”, chegando a contribuir com mais de 45% para o PIB nacional. Este percentual vem caindo, até pela maior industrialização de outras unidades da federação. Mas, mesmo assim, em 2010 a contribuição do Estado de São Paulo foi de 33% do PIB.
      Para um observador mais atento, nota-se uma discrepância na participação da indústria paulista na cadeia do petróleo. De acordo com a apresentação realizada em 06/04/2011 no Palácio dos Bandeirantes pelo presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, a cadeia do petróleo brasileira poderá contar com mais de 220.000 empresas, de variados portes, das quais 30.000 poderiam ser empresas paulistas. A partir do percentual do PIB, o razoável seria esperar a participação de um número muito maior de empresas na cadeia, mas infelizmente, não é o que está acontecendo. Sintomaticamente, só há uma Rede Petro no Estado de São Paulo, ainda em estágio inicial. A indústria paulista ainda atua timidamente neste mercado.
      Uma das razões é o fato da indústria paulista ainda estar atrelada a outros setores, entre eles, o agronegócio e o automobilístico. Neste último, o modelo prevalecente nas décadas de 70/80/90 podia ser definido como paternalista: as grandes montadoras promoviam a entrada de empresas menores em suas cadeias produtivas, terceirizando produtos e serviços, mas mantendo grande controle sobre este canal. Até mesmo fabricava parte dos insumos adquiridos, de forma a conhecer os custos de produção e, com isso, negociar melhor com os fornecedores. Fui testemunha de uma situação curiosa, na década de 80: em galpões dentro do pátio de uma grande montadora no Grande ABC, conviviam, lado a lado, dezenas de empresas menores, algumas delas fornecendo o mesmo componente automobilístico. Competição zero: a montadora definia quanto iria comprar de cada fornecedor o produto que ela mesmo especificava e fazia o controle de qualidade.
      Era um modelo confortável para todos, as empresas davam lucro, os empresários acumulavam riquezas. Tudo funcionava muito bem. O problema é que este modelo anestesia a competição e, principalmente, a inovação. Em um mundo globalizado, com concorrentes bem preparados e agressivos, provenientes de potências emergentes como a China, isto pode ser fatal.
      A indústria paulista pode e deve ter uma participação maior na cadeia do petróleo, adaptando para este mercado as suas áreas de desenvolvimento, produção e marketing. Isto foi feito, com muito sucesso, pela indústria gaúcha, no fim da década de 90. Conforme apontamos no artigo “Change to go deeper”, publicado em nome da Fundação Getúlio Vargas no Congresso Internacional de Gestão da Mudança, ocorrido este ano nos Estados Unidos, um setor industrial inicialmente focado na agroindústria conseguiu se reinventar e é, hoje, um importante player, quando se fala de petróleo.
      O mercado do petróleo é importante para as empresas paulistas, mas há uma outra questão que não deve ser negligenciada: a cadeia do petróleo brasileira não se fortalecerá enquanto não ocorrer uma forte mobilização da indústria paulista em relação a ela. Isto geraria, inclusive, novas oportunidades de negócio para empresas localizadas em outras unidades da federação. É importante, pois, que haja uma conjugação de esforços, o que já está ocorrendo, mas talvez de uma forma menos intensa do que seria o ideal.
      Neste sentido, a Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento ( SBGC)  apresentou no primeiro semestre de 2011, um projeto que poderia viabilizar a criação de até sete Redes Petro no Estado de São Paulo, com um potencial de mobilização, a curto prazo, de até mil empresas. A médio prazo, este número poderia ultrapassar 10.000 empresas, fortalecendo a cadeia produtiva como um todo.
      Isto colaboraria para que a indústria brasileira do petróleo se consolide como uma das mais importantes do mundo, ajudando o Brasil a assumir cada vez mais um papel relevante na economia mundial, com benefícios para o país e para a sua população.

Fernando Jefferson é empresário e diretor da SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento. É coordenador do Comitê de Gestão da Rede Petro Rio e participa do Comitê Gestor da Rede Petro Brasil.
 

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