SÃO PAULO – O petróleo é considerado por muitos como um “ouro negro”. Se isso é verdade, o Brasil está sentado em cima de uma gigantesca mina à espera de exploradores. Contudo, as ações das empresas do setor parecem não corresponder a todo esse valor que se esconde sob o território brasileiro.
As ações das principais petrolíferas listadas na bolsa – Petrobras (PETR3, PETR4), OGX (OGXP3), HRT (HRTP3) e Queiroz Galvão (QGEP3) – mostram um desempenho pífio no ano, bem abaixo do Ibovespa.
O fato chama tanto a atenção que até rendeu algumas páginas em um dos mais respeitados jornais financeiros do mundo. "O Brasil flutua sob um mar de petróleo. Então por que as ações de petrolíferas performam tão mal?", questiona o Wall Street Journal, em artigo publicado no início desta semana.
A publicação norte-americana destaca que a euforia com a descoberta do pré-sal deu lugar à realidade, à medida que retirar o petróleo da terra provou ser uma atividade extremamente cara. A publicação também critica as barreiras à presença dos estrangeiros na campanha exploratória, o que atrasa o desenvolvimento e eleva os custos, e lembra que os recursos embaixo da terra não são sinônimos de fluxo de caixa livre para as empresas.
Mas as dificuldades das empresas do setor na bolsa vão muito além dessas questões. Em um intervalo de cerca de um mês o setor foi recheado por notícias negativas. Poços sem petróleo em quantidade comercial ou com uma capacidade de produção muito abaixo daquela que era tida como ideal, tornaram-se comum entre essas companhias.
Muitos dizem que as empresas agora se tornaram mais realistas, como sinalizou a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, mas ao mesmo tempo a confiança dos investidores nelas pode ter sido abalada.
Risco é uma característica do setor
No entanto, engana-se quem pensa que o problema está na solidez das empresas do setor. Analistas ouvidos pela InfoMoney destacam que esses eventos recentes são normais para o setor e que os investidores devem se acostumar a esse cenário, já que a própria característica da indústria leva a isso – o risco é elevado, mas o potencial de ganhos também.
Lucas Brendler, analista da Geração Futuro, diz que as petrolíferas possuem, em geral, três grandes características: utilização de capital intensivo, projetos de longa duração e complexidade da indústria - todos fatos que podem causar distorções nos cronogramas das empresas. Assim, torna-se também mais difícil de prever o que acontecerá adiante.
"As empresas trabalham com muitos dados probabilísticos, com muita informação que é difícil de interpretrar", alerta. "Tem variáveis que elas não podem controlar."
Solução: melhorar a comunicação
Por conta disso, Brendler oferece uma saída para as empresas amenizarem a situação: flexibilizar suas metas. Atualmente, elas projetam números cheios - por exemplo, a Petrobras espera atingir uma produção de 3,3 milhões de barris de petróleo por dia em 2016 -, mas o ideal seria trabalhar com um intervalo de segurança, diz.
"Elas não tem como afirmar que produzirão determinada quantidade naquele poço específico se o próprio projeto já está amparado em probabilidades", alerta. "O que as empresas têm feito é tentar conversar com o mercado e informar uma meta que eventualmente seria atingida, e não a meta real", crava Brendler.
Enquanto isso, um analista que preferiu não se identificar ressalta que o problema tem duas vias: a falta de informações mais claras por parte das empresas e também erros por parte dos próprios investidores, que têm dificuldades em precificar as informações. “É um mercado relativamente recente para os brasileiros”, diz.
O analista lembra que por muitos anos a única petrolífera que era conhecida pelo mercado era a Petrobras, uma empresa de proporção muito grande, o que dificulta a percepção de seus problemas internos. A próxima petrolífera a chegar ao mercado acionário foi a OGX, em meados de 2008 (logo em seguida a Petrobras anunciou a descoberta do pré-sal, que injetou otimismo em todo o setor). Assim, os investidores ainda têm dificuldades em entender o que acontece com as outras empresas do setor, que dão seus primeiros passos na exploração do petróleo brasileiro.
Empresas de sucesso
No entanto, ambos profissionais destacam, por exemplo, que as companhias são sólidas e possuem boas projeções. Tomando como exemplo o caso da OGX, o mercado mostrou forte decepção com a produção de 5 mil barris de petróleo por dia nos poços de Tubarão Azul, na Bacia de Campos.
Entretanto, esse número ainda é forte, já que cerca de 80% dos poços marítimos da bacia produzem menos que 5 mil barris por dia, conforme dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) para maio e sem contar com o campo de Frade, onde a produção está interrompida por conta do vazamento de petróleo.
Além do mais, a campanha exploratória das petrolíferas brasileiras também apresenta um bom histórico se comparada com números internacionais – a média da taxa de sucesso no exterior é de 38%, enquanto na Petrobras a taxa foi de 59% em 2011, conforme afirmação de Graça Foster em abril. Segundo a OGX, a taxa de sucesso da companhia na Bacia de Campos é de 90% nas áreas já perfuradas.
Contudo, como essas empresas possuem um portfólio ainda pequeno de poços, exceto a Petrobras, qualquer decepção logo se reflete no mercado – por outro lado, um evento como a descoberta de petróleo em poço comerciável também rapidamente tem impacto positivo nas ações.
“Talvez elas podiam ter esperado um pouco para ir à bolsa. Se não estivessem na bolsa não sofreriam toda essa pressão, mas nada muda no operacional delas, o dia a dia continua o mesmo”, complementa o analista que preferiu não ser identificado.
Há espaço para todas
Outro ponto frequentemente questionado é quanto um monopólio da Petrobras nas terras brasileiras, que seria responsável pelos melhores poços do Brasil. Os analistas destacam que estamos apenas na ponta do iceberg, já que somente 4% das bacias sedimentares brasileiras estão com alguma concessão. Portanto, há muito espaço para crescer.
Dessa forma, o próximo grande evento para o setor deve ser a 11ª rodada de licitações, onde as petrolíferas poderão conseguir o direito de explorar mais poços. Mas isso deve ficar para o próximo ano, já que isso só acontecerá depois da votação sobre os royalties do petróleo, marcada para depois das eleições deste ano, em outubro.
Por tudo isso, a opinião dos analistas é clara: “Essa volatilidade é passageira".