Multinacionais se instalam no Parque Tecnológico Rio, na Ilha do Fundão.
Extração mineral cresce e ajuda a manter a economia crescendo.
Em meados de dezembro do ano passado, o separador submarino água-óleo (SSAO), desenvolvido pela FMC Technologies, foi afundado no Campo de Marlim, na Bacia de Campos, para começar a funcionar ligado à plataforma P-37 da Petrobras, a 900 metros de profundidade. O separador, que pesa cerca de 400 toneladas, tem capacidade de produção de cerca de 18 mil barris por dia, separando o óleo da água e da areia que vêm misturados durante a extração. A estrutura, desenvolvida em parceria com a Petrobras, tem 75% de conteúdo local.
Desde a descoberta da existência de depósitos de petróleo na camada pré-sal, anunciada pela Petrobras em 2006, desenvolver tecnologias para sua exploração se tornou um desafio que vem ajudando a alavancar a economia brasileira. E o Parque Tecnológico Rio, na Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, vem se tornando um polo de atração para empresas brasileiras e estrangeiras interessadas em investir no setor – como a própria FMC.
Motivos não faltam. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (6) mostram que a extração mineral, que compreende a produção de petróleo e gás, teve crescimento de 3,2% em 2011, acima do crescimento da indústria como um todo, que ficou em 1,6% no período. Os dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP) apontam na mesma direção: em janeiro deste ano, a produção de petróleo e gás do país foi recorde, com 2,231 milhões de barris por dia.
A articulação tecnológica
O gerente da área de Articulação Corporativa do Parque Tecnológico Rio, Alfredo Laufer, explica que o espaço vem sendo desenvolvido há 15 anos, mas em 2007 ganhou grande vigor, com a descoberta do pré-sal. Já lá se instalaram cerca de 20 empresas.
“A partir de 2007 aconteceu um boom no parque tecnológico”, diz ele. “Os desafios de exploração de petróleo na profundidade da camada pré-sal requerem tecnologias que ainda não possuímos. As grandes empresas do setor estão investindo em centros de pesquisas e isso tem uma consequência direta sobre o PIB”, explicou ele.
Segundo Laufer, o petróleo traz possibilidades imensas para empresas internacionais cujos países sedes passam por crises e que veem no Brasil potencial para grandes negócios. Ele lembra que a Petrobras anunciou investimentos de cerca de US$ 250 bilhões para os próximos cinco anos.
Como a FMC, outras multinacionais estão chegando atraídas pelo desafio de desenvolver tecnologias para a exploração do pré-sal. Já estão em atividade no Parque as empresas de petróleo Schlumberger, francesa, e Baker Hughes, americana, além de pelo menos outras dez de menor porte.
Até o fim do ano, a Chemtech, empresa da Siemens, concluirá a obra de seu centro de pesquisas no parque tecnológico, mas engenheiros e pesquisadores brasileiros já trabalham nesses projetos. O mais importante deles é um projeto de distribuição de energia elétrica no fundo do mar para alimentar equipamentos que vão ficar instalados no fundo do mar a grandes profundidades.
O centro tem investimentos de R$ 40 milhões para sua construção e tem capacidade para 800 trabalhadores – será o maior no parque tecnológico, segundo o presidente da Chemtech, Daniel Moczydlower.
Até 2014, todas as empresas que ganharam a licitação para se instalar no parque deverão funcionando plenamente, somando um total de cinco mil pesquisadores em ação. O investimento conjunto chega a R$ 500 milhões somente na construção dos prédios.
Um parque sem precedentes
Daniel Moczydlower, presidente da Chemtech, afirma que o que está acontecendo da Ilha do Fundão não tem precedentes.
“Com a vinda não só da Siemens, mas de outras grandes empresas de tecnologias de petróleo do mundo que estão com centros de pesquisas instalados na Ilha do Fundão, está se formando naquele perímetro um centro de desenvolvimento tecnológico que não tem paralelo no mundo. Essas empresas estão ao lado do Cenpes, da Petrobras, que foi recentemente expandido, e é um dos maiores centros de pesquisas da América do Sul, e da universidade federal. Isso não tem paralelo, nem em Houston, nem na Noruega”, disse ele.
Ele afirma que, muito mais interessante do que os prognósticos que indicam que o Brasil será um grande exportador de petróleo, e a possibilidade de se tornar um exportador de tecnologias. Para ele, temos uma chance de ouro de transformar o Brasil em líder em tecnologia.
“Estamos criando conhecimento novo para atender à demanda do setor de petróleo e esse conhecimento vai se transformar futuramente em produto de exportação brasileira. Com certeza, é uma revolução o que está acontecendo no Brasil nesse setor”, afirma.
O Parque Tecnológico do Rio, apontado como um dos principais no Brasil, fica na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, numa área de 350 mil metros quadrados. Entre laboratórios e centros de excelência instalados no Parque e mantidos pela Coppe/UFRJ, também estão reunidas empresas de base tecnológica que atuam nos setores de energia, petróleo e gás, meio ambiente e tecnologia da informação.
O projeto nasceu em 2003 para estimular a interação entre a universidade – alunos e corpo acadêmico – e empresas. As empresas foram chegando aos poucos, mas o pré-sal foi a grande atração que fez as empresas lotarem o parque. Nos próximos três anos, mais de R$ 500 milhões devem ser investidos em novas construções de unidades de pesquisas. Cinco mil pesquisadores altamente qualificados devem trabalhar no local.
‘Não vai ser por falta de estaleiro’
Segundo estudos da UFRJ (ao lado da qual Parque Tecnológico está instalado), o petróleo representa 10% do PIB brasileiro, podendo chegar a 20% em 2020. Existe uma projeção potencial de encomendas de US$ 180 bilhões em plataformas, barcos de apoio e navios de transportes até 2020, somente por parte da Petrobras.
É o que explica Augusto Mendonça, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav). E nesse cenário está excluída a parcela da OGX, ressalta ele. Para essa demanda, estão sendo construídos estaleiros de alta produtividade em Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e dois no Rio Grande do Sul.
“A indústria está se preparando para essa demanda, não vai ser por falta de estaleiro que essa demanda não vai ser atendida”, garantiu.
Alfredo Laufer, gerente do Parque Tecnológico, explica que o pré-sal tem as suas reservas conservadoramente calculadas em torno de 20 bilhões de barris, com perspectivas de poder chegar a 50 bilhões de barris. As atuais reservas comprovadas do Brasil em petróleo somam em torno de 16 bilhões de barris.
“Se fizermos uma estimativa levando em conta o preço médio do barril em torno de US$ 100, estamos falando de uma cifra existente no pré-sal, que está a 7.000 m de profundidade, de US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões. Esse potencial é extremamente grande. Na crise 2008, houve investimentos em torno de US$ 2 trilhões nas economias do mundo para que houvesse a reaceleração da economia mundial”, explica Laufer.
Mão de obra
Mendonça ressalta que a mão de obra é um gargalo: “o setor tem pleno emprego, hoje são 58 mil pessoas trabalhando em estaleiros, e até 2016 serão 100 mil. No ano de 2000, eram apenas 2.000 pessoas trabalhando em estaleiros. Mas esses trabalhadores, em todos os segmentos, precisam de treinamento para seguir normas rígidas. Isso é um desafio”, explica.
Alfredo Laufer concorda: “o desafio é a possibilidade de termos até 50 bilhões de barris de petróleo e termos mão de obra para tirar esse petróleo de uma profundidade de 7.000 m. Precisamos de engenheiros, técnicos, químicos, doutorandos e pós-doutorandos porque precisamos inovar, precisamos ter conhecimento”, diz, ressaltando ainda a falta de técnicos.
“Temos uma tremenda deficiência de técnicos. O número de técnicos que o Senai e o Sesi formam é muito pequena, precisaria multiplicar por dez”.
A falta dessa mão de obra qualificada movimenta outro setor da economia, a imigração. Carlos Aud Sobrinho, da CAS Óleo Visas Legalização de Documentos, diz que “quem tem tecnologia são as pessoas, então, se nota o crescimento da mão de obra qualificada para o setor. A necessidade da mão de obra estrangeira é para reforçar e somar esforços na transferência de tecnologia. A imigração é um termômetro do desenvolvimento econômico – se há pouca imigração, significa que a economia está estagnada”.
Ele cita estatísticas do Ministério do Trabalho sobre a concessão de autorizações de trabalho para estrangeiros no Brasil. Entre vistos temporários e permanentes foram 42.914 vistos em 2009; 56.006, em 2010; e 70.524 em 2011.
Capacidade de inovação
Carlos Tadeu da Costa Fraga, gerente-executivo do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), o centro de pesquisas da Petrobras, diz que a tecnologia para a exploração do pré-sal está disponível, “tanto que a gente já produz”, mas dada a escala do pré-sal, a pujança da área é primordial que se busque aprimoramento nas tecnologias já existentes.
“Isso porque qualquer ganho em redução de custos e aumento de eficiência, dada a escala das operações, tem um impacto fantástico”.
“Em 2011, o investimento total (da Petrobras) foi de R$ 1,8 bilhões; em 2010, R$ 1,4 bilhões. Esses valores têm colocado a Petrobras sistematicamente nos últimos 5 anos como uma das cinco empresas que mais investem em pesquisa e desenvolvimento no setor petróleo e gás no mundo. Porque esses investimentos podem gerar resultados com retorno fantástico”, diz.
Para Carlos Tadeu, dentro desse investimento, um componente importante diz respeito ao aumento da capacidade local de inovação para que a indústria possa cumprir sua meta de produzir conteúdo local.
Parte da ampliação da capacidade de inovação envolve as empresas fornecedoras de bens e serviços para a Petrobras, que, atraídas pela escala do pré-sal, decidiram construir no Brasil centros de pesquisas, explica Carlos Tadeu.
“Na Ilha do Fundão, o parque tecnológico sedia gigantes do petróleo e gás, permitindo não só a Petrobras aumentar sua capacidade como que seus parceiros tenham aumentada a capacidade de realizar inovação no Brasil, gerando empregos de alto valor agregado”, diz ele
“Na área de tecnologia de perfuração de poços, os três maiores fornecedores do mundo são a francesa Schlumberger e as americanas Halliburton e Baker Hughes, que são concorrentes ferozes. Pela primeira vez na história dessa indústria no mundo essas três grandes rivais estarão lado a lado com seus centros de pesquisa dessas empresas ao lado UFRJ e do Cenpes”, ressalta.
Fonte: G1 RJ por (Lilian Quaino)