javascript:; F Petróleo Infonet: Petróleo: onde está a autossuficiência?

quarta-feira, 7 de março de 2012

Petróleo: onde está a autossuficiência?



Anunciada com muita festa em 2007, a autossuficiência do setor petrolífero como um todo continua sendo um sonho muito distante. Não adianta ser um grande produtor e exportador de petróleo bruto e, por falta de investimentos em refinarias, ser um grande importador de derivados, que têm maior valor agregado. A conta não fecha, e o déficit torna-se bilionário. O Brasil tem que deixar de lado a sua política de mero exportador de matérias-primas e agregar valor aos seus produtos.
Nesse quesito estamos exatamente como o Irã que, mesmo sendo o segundo maior produtor da Opep (média de 3,617 mbd em 2011), gasta bilhões de dólares por ano na importação de derivados por falta de capacidade de refino. No caso do Brasil, não obstante os esforços da Petrobras na ampliação e reforma das refinarias existentes, desde 2006 o volume e os gastos na importação de derivados aumentaram de forma assustadora (www.anp.gov.br).
Para que se tenha uma ideia, entre 2011 e 2010 houve um aumento de 10,69% no volume de importação: 90,673 milhões barris ano (mba) e 172,256 mba, respectivamente. Mas, para tal foi desembolsado o montante de US$ 19,403 bilhões em 2011 e US$ 12,987 bilhões em 2010, um aumento de 49,40%.
Em todo o ano de 2011, tivemos uma receita de US$ 9,479 bilhões com exportação de derivados, mas, em compensação, gastamos US$ 19,403 bilhões com importações, o que provocou o histórico déficit de US$ 9,923 bilhões! É muito, muito dinheiro.
Para que se possa dimensionar a grandeza desse rombo, entre 1999 e 2011, o déficit da conta-derivados alcançou US$ 14,410 bilhões (o custo de uma refinaria), ou seja, só o valor de 2011 representou 68,86% desse total. E esse déficit continuará aumentando cada vez mais, pois a frota veicular cresce ano a ano e as novas refinarias – as duas em construção (Nordeste, PE, e Comperj, RJ) estão com os cronogramas atrasados – e duas nem saíram do papel (Premium I, MA, e a Premium II, CE).
A situação da conta-petróleo só não foi mais desastrosa para o equilíbrio das contas nacionais em 2011, em razão de dois fatores: 1º) O bom desempenho entre a exportação e a importação de petróleo, US$ 21,785 bilhões e US$ 14,135 bilhões, respectivamente, o que resultou num superávit de US$ 7,650 bilhões; e 2º) A contribuição do etanol. Não obstante, a produção (e venda) desse energético ter tido uma performance muito abaixo do previsto, o mesmo contribuiu sobremaneira para o setor energético.
Façamos os cálculos. Somando os volumes do etanol anidro (que é misturado à gasolina A e passa a chamar-se gasolina C) e hidratado (que sai diretamente das bombas para os tanques dos veículos) vendidos durante o ano passado, 52,725 milhões de barris (mb) e 67,415 mb, respectivamente, e considerando o custo médio do barril do derivado importado – US$ 100,19 – tivemos uma economia na importação de derivados de combustível fóssil de US$ 12,036 bilhões. Mesmo com os problemas observados no setor sucroalcooleiro nestes últimos anos, notadamente por falta de investimentos em novas usinas e nas plantações, a sua contribuição para o país continua sendo fundamental.
Além dos benefícios ambientais e da geração de empregos diretos e indiretos, a sua participação no setor energético é estratégica. No entanto, em função de uma política econômica absolutamente equivocada, o governo não dá a devida importância a esse fato e prefere manter o preço da gasolina artificialmente congelado, o que prejudica sobremaneira o etanol e o resultado financeiro da Petrobras.
Seria de bom tom que as autoridades do setor energético se dessem conta de que, desde 2008, a ANP não realiza nenhum leilão de novos campos para produção e que, não obstante a milionária propaganda governamental, a produção de petróleo vem caindo de forma preocupante. Cresceu 7,33% em 2009, 5,35% em 2010 e somente 2,47% em 2011. Entre 2000 e 2011, a produção teve um incremento de 70,53%, média de 5,88%/ano.
Analisando os números previstos no Plano de Negócios (PN) da Petrobras 2011-2015, observamos que os volumes previstos estão cada vez mais distantes. Para atingir o volume de produção previsto de 3,070 milhões de barris dia (mbd) em 2015, seria necessário que a produção crescesse numa média anual de 11,45%. Para 2020, o panorama fica ainda mais complicado, visto que, para atingir a meta de 4,910 mbd, a média anual de produção teria que ser 14,80%.
Do jeito que está o panorama, não será surpresa se, num futuro não muito distante, voltarmos a importar petróleo como em décadas passadas.
Fonte: Jornal do Brasil - Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor

Nenhum comentário:

Postar um comentário




Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...