javascript:; F Petróleo Infonet: Falta de refinarias e derivados tabelados prejudicam a Petrobras

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Falta de refinarias e derivados tabelados prejudicam a Petrobras



Temos que sair do círculo vicioso e acomodado que vem desde a época do Descobrimento, de ser um país exportador de matérias-primas, sem valor agregado. Começamos com o pau-brasil, depois veio a rapadura, o café, e assim continuamos; agora soma-se o minério de ferro – um dos melhores do mundo –, soja, algodão e, mais recentemente, o petróleo.
A história mostra muito claramente que nenhum país que sempre foi um grande exportador de commodities foi ou é uma grande potência. A razão é simples: quem exporta matéria-prima barata, importa produtos manufaturados muito mais caros. País que se torna potência é aquele que produz e exporta produtos com ciência e tecnologia agregados.
Vejamos, como exemplo, a Coreia do Sul destroçada por várias guerras e ocupações estrangeiras, e era um país inexpressivo. No entanto, 40 anos atrás fez um plano de desenvolvimento de longo prazo, investiu pesado em educação e cultura de excelente qualidade, e hoje é uma potência emergente, apesar de que só exporta produtos com valor agregado.
A Coreia não tem petróleo, mas tem refinarias; não tem minério, mas tem uma pungente indústria metalúrgica – em 2011, produziu 68.471 milhões de toneladas de aço, enquanto o Brasil produziu 35.162 mt, 6º e 9º lugar no ranking da World Steel Association (WSA), worldsteel.org) –, além de ter os maiores estaleiros do mundo, somados a um fenomenal parque tecnológico, que faz o país ser o maior fabricante mundial de chips.
Esta pequena introdução serviu para mostrar como, em função da falta de planejamento, estamos perdendo bilhões de dólares ao não agregar valor aos nossos produtos primários.
Como já fiz anteriormente neste Jornal do Brasil, analisarei o setor petrolífero. Já é por demais sabido que as nossas refinarias chegaram ao seu limite de produção, o que é agravado pelo fato de que, de acordo com o novo Plano de Negócios (PN) da Petrobras 2012-2016 (aprovado em 14/06 e apresentado de forma resumida sob a forma de Fato Relevante de seis páginas), “os projetos de expansão de capacidade de refino que entrarão em operação até 2016 são a Refinaria Abreu e Lima e o 1º Trem de Refino do Comperj, que já estão na fase de implementação".
Curiosamente, não há nenhuma menção às refinarias Premium I (MA) e Premium II (CE), previstas para 2016 e 2017, respectivamente, conforme PN 2011-2015 (aguardaremos o detalhamento do novo PN para fazer uma análise mais criteriosa).
Como a última refinaria foi inaugurada há 32 anos e nesse período houve um substancial aumento na produção de petróleo paralelamente a uma grande demanda por derivados, em função do aumento da frota veicular e de outros setores, o que vemos hoje é a perda de bilhões de dólares como resultado da desídia dos nossos governantes.
A análise terá como referência o primeiro quadrimestre de 2012 (anp.gov.br). No período, tivemos uma produção (média) de 258,447 milhões de barris (mb) de petróleo, dos quais exportamos 72,035 mb e importamos 36,978 mb. Com a exportação tivemos uma receita de US$ 7,6115 bilhões e um dispêndio de US$ 4,632 bilhões, com importações, o que resultou num superávit de US$ 2,983 bilhões.
No entanto, quando analisamos os números referentes aos derivados, o resultado é desastroso. Exportamos 32,345 mb e importamos 59,683 mb, o que resultou em uma receita de US$ 3,800 bilhões e dispêndio de US$ 6,559 bilhões, respectivamente, o que resultou num déficit de US$ 2,759 bilhões, o que projeta um rombo de US$ 8,277 bilhões até o fim do ano (valor esse equivalente a uma refinaria).
A situação da nossa balança comercial ainda não está no vermelho devido a dois fatores: 1º) As exportações de petróleo; e 2º) A mistura do anidro à gasolina (20%) e o consumo de etanol hidratado que, mesmo tendo uma queda de 15,74 % nas vendas no período, representaram uma economia de US$ 4,423 bilhões (considerando o preço médio da gasolina importada em US$ 126,66 bilhões).
A situação poderia estar muito mais tranquila se o governo federal não obrigasse a Petrobras a manter o preço da gasolina e do diesel engessado há mais de cinco anos, numa manobra tipicamente eleitoreira, já que o aumento desses derivados poderia provocar, num primeiro momento, um pequeno aumento no índice inflacionário. E só mesmo um ingênuo acreditaria que os políticos (de todos os partidos) iriam arriscar perder votos aumentando os combustíveis antes das eleições.
Esse absurdo tabelamento da gasolina e do diesel – na verdade, um subsídio –, além de prejudicar enormemente o setor sucroalcooleiro, pois o setor privado tem que repassar os seus custos, traz um bilionário prejuízo financeiro para a Petrobras, pois afeta a disponibilidade de caixa e a capacidade de investimentos.
Quanto mais o governo interfere na Petrobras, pior fica o panorama, além de arranhar a sua imagem, interna e externamente. Alguma dúvida? Uma ação tipo Petr3 valia R$ 44,92 em 02/01/2008 e hoje (14/06), vale somente R$ 18,87, uma perda de 58,00%. Só em 2012, a ação Petr3 já caiu 16,76% (investidorpetrobras.com.br).
Pergunto: como pode que a Petrobras, a 10ª maior empresa do mundo, tenha o 16º pior desempenho no Ibovespa e a pior rentabilidade – 9,16% – entre as 10 maiores petroleiras do mundo?
A resposta é simples: basta que a Petrobras ande com “suas próprias pernas” sem interferência do Planalto, e que seja administrada não por políticos apadrinhados e oportunistas, e sim pelos seus competentes técnicos. 
*Humberto Viana Guimarães, engenheiro civil e consultor, é formado pela Fundação Mineira de Educação e Cultura, com especialização em estruturas de concreto, geração de energia, saneamento e materiais explosivos.
Fonte: Terra

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