Velha conhecida dos departamentos de finanças e contabilidade das empresas, a auditoria está se tornando aliada também dos gestores de recursos humanos. Com o objetivo de "medir" o real conhecimento de idiomas de candidatos e funcionários, muitas companhias estão investindo em verdadeiros processos internos de investigação e avaliação de profissionais. A chamada auditoria linguística vem se popularizando especialmente entre multinacionais e em setores onde a comunicação em inglês é imprescindível, como é o caso da indústria de petróleo e gás.
O crescimento da demanda por esse serviço é motivado pela dificuldade das empresas em encontrar profissionais com inglês fluente no mercado e também dentro dos próprios quadros. Segundo a gerente corporativa da Cultura Inglesa Sylvia Helena Lani, a procura pela ferramenta tem aumentado de forma expressiva em segmentos como financeiro, jurídico e marketing de diferentes indústrias. "É uma habilidade que os clientes necessitam mapear em seus funcionários para definir promoções e contratações", diz.
A necessidade do serviço se acentua graças à alta incidência de exageros nos currículos sobre o domínio de idiomas. Muitas vezes, por exemplo, o profissional alega ser fluente em inglês por ter morado fora ou conseguido o certificado de conclusão de algum curso. "Isso não significa, porém, que ele tenha o nível adequado ou desejado pela empresa para a posição que vai ocupar", afirma Angela Branco, diretora da Plan Idiomas. A companhia viu a demanda por auditoria linguística aumentar em 20% no último ano, principalmente por conta de clientes que atuam na cadeia do petróleo. "É um setor que recebe muitos estrangeiros. Boa parte da comunicação entre os funcionários é feita em inglês".
Esse é o caso da Wood Group PSN, empresa que presta serviços de engenharia para plataformas de petróleo. Com sede na Escócia e mais de 30 mil funcionários em todo o mundo, a companhia exige domínio do inglês entre os profissionais que ficam "embarcados" nas plataformas e também entre os que atuam no setor administrativo. "Nosso intercâmbio com outros países é muito forte, seja em negociações com o cliente ou na comunicação com outras filiais da empresa", afirma Bianca Moitta, responsável pela gestão de treinamento e desenvolvimento do grupo no Brasil.
Desde 2010, a empresa promove auditorias linguísticas entre funcionários e candidatos para checar o nível do idioma. "É uma espécie de régua universal para medir desempenho oral e escrito. Como se trata de uma função muito específica, muitas vezes o RH não consegue fazer, por estar mais concentrado em avaliar aspectos técnicos e comportamentais dos profissionais."
A primeira auditoria linguística foi interna, mas logo o serviço se estendeu também para os processos de recrutamento do grupo. "É muito comum recebermos currículos que exageram o nível de fluência no idioma. Se o profissional diz que tem inglês básico, por exemplo, é porque não sabe nada", afirma.
De acordo com Alexandre Attauah, gerente da consultoria de recrutamento Robert Half, há uma tendência natural de que os profissionais tentem "maquiar" seu conhecimento em línguas quando não o consideram bom o suficiente. "O idioma acabou se tornando um item obrigatório no currículo e, muitas vezes, o profissional mente para parecer mais fluente", afirma. Uma pesquisa recente da consultoria com 2 mil gestores de RH em 11 países mostrou que 41% deles apontam o conhecimento em línguas como o aspecto mais exagerado nos currículos que recebem - no Brasil, esse índice sobe para 46%.
Aferir o real domínio dos candidatos a uma vaga, porém, é apenas uma das funções da auditoria linguística. Em grande parte dos casos, ela funciona para avaliar os funcionários que já estão na empresa e ajudar a empresa a desenhar programas de treinamento corporativo. "O objetivo não é 'descobrir uma mentira', mas entender quais são as necessidades do profissional para investir em seu desenvolvimento", afirma Bianca Moitta. A empresa subsidia cursos de inglês para os funcionários que participam da avaliação.
No Banco do Brasil, a auditoria é uma espécie de certificação, que abre portas para que o funcionário dê sequência em seu plano de carreira. "O banco está em processo de internacionalização e precisa preparar seu quadro de profissionais", afirma Carlos Netto, diretor de gestão de pessoas. Segundo ele, apesar de não ser obrigatória, a avaliação conta pontos para o profissional que se candidata a posições que demandam conhecimentos em idiomas, como é o caso da área de comércio exterior e dos escritórios internacionais. "Recentemente, abrimos 30 posições de gerência no exterior e 800 pessoas se candidataram. Com tanta concorrência, as diferenças entre os classificados é pequena, e a certificação em idiomas acaba sendo decisiva."
Netto explica que, embora voluntária, a adesão à certificação costuma ser grande. "Recebemos cerca de 700 pedidos por ano. A demanda vem crescendo com o passar do tempo, principalmente por parte dos jovens", afirma. A certificação usada pelo Banco do Brasil é o Business Language Testing Service (Bulats), da Cultura Inglesa, que custa R$ 145 por pessoa - a instituição reembolsa o funcionário que for 'aprovado' na avaliação e concede até 80% de subsídio para estudo de idioma. "É um benefício percebido como um salário indireto", diz Netto.
Fonte: Valor Econômico
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