Tenho visto muita gente interessado no trabalho embarcado como opção de carreira. Nesse sentido venho trazer um pouco da minha experiência de mais de vinte anos nessa atividade para mostrar que nem tudo são flores na nossa indústria do petróleo.
O principal atrativo do trabalhador offshore é o salário que e um pouco maior do que os pagos pelas empresas "em terra". Isso decorre, muitas vezes, das gratificações e adicionais somados ao salário básico.
O trabalho embarcado, porém, requer algumas características de personalidade um pouco diferentes dos cidadãos comuns. Não que sejamos anormais, mas, eu diria, que é necessário ser um pouco diferente para que tudo dê certo..
O trabalhador embarcado, tem uma escala de 14 X 14 (14 dias embarcados por 14 dias de folga), na maioria das empresas brasileiras. Isso não impede que se fique mais tempo a bordo. Não raro precisamos passar 28 dias ou até mais um pouco.
Sendo assim a principal dificuldade desse profissional, é a saudade de casa, da esposa(o), dos filhos, namorada(o), noiva(o) amigos etc... Ainda tem outros problemas, como o perigo, os cuidados com a segurança, o trabalho sobre pressão etc.
Nesses anos de trabalho embarcado em plataformas e navios, vi colegas terem problemas psicológicos sérios. Vi também funcionários novatos pedindo para desembarcar no mesmo dia que chegaram a bordo. Outros conseguiram terminar a jornada mas juraram nunca mais trabalhar nesse tipo de serviço.
A razão deste texto é esclarecer que para o profissional trabalhar embarcado, é necessário preparo psicológico além de um suporte muito grande da família.
Não sou um profissional de psicologia, apenas uso minha experiência profissional em supervisão de equipes offshore para expor minha opinião. Claro que aqueles profissionais da medicina poderiam explicar melhor o que ocorre com a mente humana quando se vê isolada e confinada em um ambiente longe de tudo.
Para saber se você tem condições de trabalhar embarcado, verifique se é capaz de se virar sozinho e se sua família é capaz de fazer o mesmo. Sim, por que de nada adianta você conseguir trabalhar e sua esposa não souber se virar em casa, dependendo de você até para trocar uma lâmpada.
A mesma coisa ocorre com uma mulher casada que trabalha a bordo. Se o marido não souber cozinhar e cuidar da casa na sua ausência, talvez haja dificuldades para um bom relacionamento.
O trabalho embarcado requer, também, um bom preparo psicológico em relação ao medo. O indivíduo deve ter uma boa dose de coragem, pois, de outra forma não conseguirá exercer suas atividades satisfatoriamente. Isso se deve ao fato de o perigo estar presente o tempo todo. É por isso que se recebe adicional de periculosidade.
Mesmo com toda evolução da segurança do trabalho, o perigo foi reduzido, mas ainda está presente em todas as nossas atividades. Só o fato de se estar a bordo, já estamos correndo perigo de vida, pois a perfuração e produção requer um controle dos gases sob pressão do reservatório.
Qnando aparece uma plataforma na televisão, na maioria das vezes, nós a vemos em um mar tranquilo, durante o dia. Ocorre que existem tempestades e o trabalho se dá durante 24 horas, portanto uma tempestade com mar agitado durante a madrugada, não é algo muito bonito de se ver.
Para chegarmos ao nosso destino temos que viajar de helicóptero ou de catamarã (barco ligeiro). Algumas vezes faz-se necessário o translado de "cestinha", de uma plataforma para um navio ou vice versa. A cestinha é um dispositivo feito de cordas com uma base inflável, presa ao guindaste, que suspende até quatro pessoas por vez e deposita-os no destino final. Os quatro trabalhadores vão abraçados às cordas pelo lado de fora e a bagagem dentro da cesta. Portanto, se você tem medo de voar ou de altura pode procurar outra forma de ganhar a vida.
O trabalho embarcado requer, ainda, um bom preparo físico e boa saúde. Os exames de saúde são rigorosos e um simples dente cariado pode reprovar o candidato. A boa saúde é necessária para um eventual abandono da plataforma ou navio. Na maioria destes locais existem muitas escadas e obstáculos a serem transpostos em caso de um abandono de emergência.
Antes do primeiro embarque o funcionário terá que participar de um curso de salvatagem, com duração de três a quatro dias, onde aprenderá técnicas de combate a incêndio, primeiros socorros, sobrevivência no mar, escape de helicóptero acidentado etc. Este curso é obrigatório para todos os profissionais que trabalham embarcados. O curso de salvatagem é válido por quatro anos, quando deverá ser feito novamente para a revalidação por mais quatro anos.
O número de acidentes diminuiu bastante com a melhoria da segurança mas não deixa de ser uma preocupação constante devido ao alto risco típico do trabalho. O último acidente de grandes proporções foi o da plataforma da BP nos Estados Unidos, em que faleceram onze trabalhadores, mas, ao que parece, a preocupação com os danos ambientais foi maior que com a vida desses profissionais e a situação das famílias.
Concluindo, não estou querendo que ninguém desanime, mas, pense com calma antes de optar pelo trabalho embarcado como carreira profissional.
Nunca vi nenhuma estatística sobre isso, mas tenho observado que a cada dez funcionários contratados por uma empresa, para trabalharem embarcados, sete terão desistido após cinco anos. Isso gera um problemas para a empresa que precisa treinar outras pessoas e para o empregado que poderia estar se dedicando a outra atividade mais prazerosa.
Nem só de trabalho embarcado vive a indústria do petróleo, mas, aos que optarem por seguir uma carreira no petróleo trabalhando embarcados eu desejo muitas felicidades.
Marcos Valério Silva.
O principal atrativo do trabalhador offshore é o salário que e um pouco maior do que os pagos pelas empresas "em terra". Isso decorre, muitas vezes, das gratificações e adicionais somados ao salário básico.
O trabalho embarcado, porém, requer algumas características de personalidade um pouco diferentes dos cidadãos comuns. Não que sejamos anormais, mas, eu diria, que é necessário ser um pouco diferente para que tudo dê certo..
O trabalhador embarcado, tem uma escala de 14 X 14 (14 dias embarcados por 14 dias de folga), na maioria das empresas brasileiras. Isso não impede que se fique mais tempo a bordo. Não raro precisamos passar 28 dias ou até mais um pouco.
Sendo assim a principal dificuldade desse profissional, é a saudade de casa, da esposa(o), dos filhos, namorada(o), noiva(o) amigos etc... Ainda tem outros problemas, como o perigo, os cuidados com a segurança, o trabalho sobre pressão etc.
Nesses anos de trabalho embarcado em plataformas e navios, vi colegas terem problemas psicológicos sérios. Vi também funcionários novatos pedindo para desembarcar no mesmo dia que chegaram a bordo. Outros conseguiram terminar a jornada mas juraram nunca mais trabalhar nesse tipo de serviço.
A razão deste texto é esclarecer que para o profissional trabalhar embarcado, é necessário preparo psicológico além de um suporte muito grande da família.
Não sou um profissional de psicologia, apenas uso minha experiência profissional em supervisão de equipes offshore para expor minha opinião. Claro que aqueles profissionais da medicina poderiam explicar melhor o que ocorre com a mente humana quando se vê isolada e confinada em um ambiente longe de tudo.
Para saber se você tem condições de trabalhar embarcado, verifique se é capaz de se virar sozinho e se sua família é capaz de fazer o mesmo. Sim, por que de nada adianta você conseguir trabalhar e sua esposa não souber se virar em casa, dependendo de você até para trocar uma lâmpada.
A mesma coisa ocorre com uma mulher casada que trabalha a bordo. Se o marido não souber cozinhar e cuidar da casa na sua ausência, talvez haja dificuldades para um bom relacionamento.
O trabalho embarcado requer, também, um bom preparo psicológico em relação ao medo. O indivíduo deve ter uma boa dose de coragem, pois, de outra forma não conseguirá exercer suas atividades satisfatoriamente. Isso se deve ao fato de o perigo estar presente o tempo todo. É por isso que se recebe adicional de periculosidade.
Mesmo com toda evolução da segurança do trabalho, o perigo foi reduzido, mas ainda está presente em todas as nossas atividades. Só o fato de se estar a bordo, já estamos correndo perigo de vida, pois a perfuração e produção requer um controle dos gases sob pressão do reservatório.
Qnando aparece uma plataforma na televisão, na maioria das vezes, nós a vemos em um mar tranquilo, durante o dia. Ocorre que existem tempestades e o trabalho se dá durante 24 horas, portanto uma tempestade com mar agitado durante a madrugada, não é algo muito bonito de se ver.
Para chegarmos ao nosso destino temos que viajar de helicóptero ou de catamarã (barco ligeiro). Algumas vezes faz-se necessário o translado de "cestinha", de uma plataforma para um navio ou vice versa. A cestinha é um dispositivo feito de cordas com uma base inflável, presa ao guindaste, que suspende até quatro pessoas por vez e deposita-os no destino final. Os quatro trabalhadores vão abraçados às cordas pelo lado de fora e a bagagem dentro da cesta. Portanto, se você tem medo de voar ou de altura pode procurar outra forma de ganhar a vida.
O trabalho embarcado requer, ainda, um bom preparo físico e boa saúde. Os exames de saúde são rigorosos e um simples dente cariado pode reprovar o candidato. A boa saúde é necessária para um eventual abandono da plataforma ou navio. Na maioria destes locais existem muitas escadas e obstáculos a serem transpostos em caso de um abandono de emergência.
Antes do primeiro embarque o funcionário terá que participar de um curso de salvatagem, com duração de três a quatro dias, onde aprenderá técnicas de combate a incêndio, primeiros socorros, sobrevivência no mar, escape de helicóptero acidentado etc. Este curso é obrigatório para todos os profissionais que trabalham embarcados. O curso de salvatagem é válido por quatro anos, quando deverá ser feito novamente para a revalidação por mais quatro anos.
O número de acidentes diminuiu bastante com a melhoria da segurança mas não deixa de ser uma preocupação constante devido ao alto risco típico do trabalho. O último acidente de grandes proporções foi o da plataforma da BP nos Estados Unidos, em que faleceram onze trabalhadores, mas, ao que parece, a preocupação com os danos ambientais foi maior que com a vida desses profissionais e a situação das famílias.
Concluindo, não estou querendo que ninguém desanime, mas, pense com calma antes de optar pelo trabalho embarcado como carreira profissional.
Nunca vi nenhuma estatística sobre isso, mas tenho observado que a cada dez funcionários contratados por uma empresa, para trabalharem embarcados, sete terão desistido após cinco anos. Isso gera um problemas para a empresa que precisa treinar outras pessoas e para o empregado que poderia estar se dedicando a outra atividade mais prazerosa.
Nem só de trabalho embarcado vive a indústria do petróleo, mas, aos que optarem por seguir uma carreira no petróleo trabalhando embarcados eu desejo muitas felicidades.
Marcos Valério Silva.
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