javascript:; F Petróleo Infonet: A Geração do Petróleo

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Geração do Petróleo




Recém-saídos das universidades, jovens especialistas na exploração do chamado ouro negro são disputados pelas principais multinacionais do setor e remunerados com salário de gente grande


Marina Salomão, 22 anos - Contratada há menos de um mês por uma multinacional francesa, a praticante de muay thai se prepara para realizar um estágio no exterior


Dona de uma rotina pouco usual para uma moça de sua idade, a jovem Flávia Amaral, 24 anos, está acostumada a lidar com desafios. Sua jornada de trabalho começa com uma viagem de 150 quilômetros do Rio a Cabo Frio e, a partir dali, um voo de helicóptero por cerca de meia hora mar adentro, até as plataformas instaladas a cerca de 100 quilômetros da costa fluminense. Uma vez embarcada, passa catorze dias seguidos na estrutura, onde realiza tarefas complexas e perigosas, como conferir as medidas de dutos de bombeamento. Um pequeno erro nos cálculos pode ser fatal e provocar prejuízos na casa de sete dígitos.

 A pressão, a distância de casa, o confinamento em cubículos e a obrigação de passar metade do mês no meio do oceano fazem parte da carreira que escolheu. Mesmo assim, Flávia adora o que faz. Com apenas um ano de formada no curso de engenharia de petróleo, ela ocupa o posto de especialista em perfuração da companhia dinamarquesa Maersk Oil, uma das potências do setor. Antes disso, quando ainda estava na faculdade, no câmpus da PUC, foi contratada pela anglo-holandesa Royal Dutch Shell, outro gigante da área. Reservada, ela não gosta de falar em dinheiro, mas, tomando como base seu cargo e  o competitivo mercado em que atua, a moça ganha hoje aproximadamente 10 000 reais por mês. “Não é um emprego fácil, mas tem grandes compensações”, diz.

Bem-sucedida, com ótimo salário e disputada pelas empresas, Flávia é o retrato de uma geração abençoada: os garotos do petróleo. Trata-se de uma turma que escolheu a profissão certa no momento perfeito. Mal recebem o diploma, eles já têm emprego garantido em posições que pagam até 7 500 reais mensais — na mesma fase, um advogado recebe a metade disso e um jornalista, cerca de um terço. Os primeiros representantes dessa leva começaram a despontar nos últimos cinco anos, quando surgiu o primeiro curso de graduação específico para a área, ministrado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense. Atualmente, dezesseis instituições de ensino superior oferecem a carreira por aqui. A razão da multiplicação, em um período relativamente curto, é óbvia. Com um quinto das reservas nacionais e 85% da produção do país, o Rio de Janeiro transformou-se em uma espécie de Houston brasileira. Hoje, a atividade responde por 20% do PIB fluminense, um porcentual que deve chegar a 30% nos próximos dez anos. Tudo isso sem contar o potencial do pré-sal. Diz o economista Fernando Blumenschein, da FGV, autor de um recente estudo sobre o tema: “Nesse caso, poderíamos chegar ao dobro do volume atual”.



Histórias de jovens que experimentam um repentino sucesso profissional e financeiro não são novidade por aqui. De tempos em tempos, surgem carreiras que possibilitam essa ascensão. Nos anos 90, por exemplo, ganhou notoriedade no Rio uma geração de profissionais que recebia fortunas trabalhando em bancos de investimentos. Famosos por seus gastos espetaculares, especialmente em vinhos raros e casas no exterior, eles agiam (e ainda agem) como uma tribo. Vestidos com calça cáqui, camisa social azul, dirigindo carro da marca sueca Volvo e praticando esportes religiosamente, os garotos imitavam os códigos e os rituais ditados pelos caciques do mercado. A turma do petróleo é uma versão menos empolada disso. Eles não ganham tanto nem cultivam hábitos tão caros e de ostentação. Mas gostam de viver bem. Aluno da primeira turma formada pela UFRJ, Bernardo Pestana, 25 anos, é um típico representante. Em 2008, ele entrou na OGX, de Eike Batista, como estagiário. Hoje é um dos responsáveis pela coordenação de perfurações da empresa. Discreto, não fala quanto recebe, mas para funcionários do seu nível a companhia paga pelo menos 10 000 reais por mês (fora bônus e gratificações). É o suficiente para alimentar um sonho pouco comum para alguém tão novo. Nas próximas semanas, Bernardo vai começar a investir em cavalos de corrida. Ele está prestes a comprar seus dois primeiros, por 20 000 reais cada um. Sua meta é ambiciosa. “Quero ter um haras com pelo menos 100 animais, não importa o tempo que isso demore.”

João Magalhães 24 anos - Formado em julho, foi logo contratado e enviado para um curso nos Estados Unidos. Agora, acaba de comprar seu primeiro carro
Um dado crucial sobre os jovens da nova geração é que eles construíram a carreira ao largo da Petrobras. A maioria atua em empresas privadas, multinacionais, que oferecem oportunidades de crescimento mais rápido e possibilidade de transferências para o exterior. Hoje existem 54 companhias petrolíferas instaladas no Rio, 39 delas estrangeiras. Contratada pela francesa Schlumberger há cerca de um mês, Marina Salomão, 22 anos, formou-se em dezembro, com uma festa regada a tequila na boate 00, na Gávea, para a família e os amigos. Sua turma era composta de apenas seis pessoas — todas já estão empregadas. Marina, por exemplo, está prestes a embarcar para uma temporada de treinamento lá fora. A empresa não definiu o destino, mas as opções são Estados Unidos, Emirados Árabes ou Rússia. Nem tudo é glamour, claro. Para conquistar a vaga, ela mudou-se para Macaé, no litoral fluminense, e vive provisoriamente em um hotel. Mas a vida numa estatal, de fato, não combinaria com os anseios da moça. Como outros de sua estirpe, ela não esconde características como ambição, pragmatismo e espírito competitivo. “Eu nunca me imaginei trabalhando a vida inteira no mesmo lugar. Acho que temos de buscar sempre as melhores oportunidades”, diz.
Flávia Amaral 24 anos - A engenheira passa metade do mês embarcada nas plataformas marítimas. Nos outros dias, administra sua escola de dança de salão, no Catete
O regime diferenciado de trabalho nas plataformas, marcado por temporadas de catorze dias no mar alternados com catorze dias de folga, é duríssimo, mas permite aos jovens se lançar a voos pouco comuns a quem trabalha dez horas diárias em um escritório. A engenheira Flávia, citada no início da reportagem, por exemplo, possui uma escola de dança no bairro do Catete. Quando está embarcada, o negócio é tocado por seu marido, Jimmy de Oliveira, de 37 anos. No total, 200 alunos frequentam as amplas instalações do estabelecimento. Com dinheiro no bolso, os garotos conseguem antecipar sonhos que provavelmente levariam mais tempo para realizar — e curtem sua independência financeira fazendo o que gostam. É o caso de João Magalhães, 24 anos, que se formou há apenas sete meses. Funcionário da americana Baker Hughes, uma das maiores prestadoras de serviços do setor, ele acaba de comprar seu primeiro carro, um Volkswagen Bora, no valor de 35 000 reais. Criado no Cosme Velho, o rapaz chega a ganhar, nos meses em que embarca, 6 000 reais, cerca de 40% a mais que seus colegas de outros ramos da engenharia. O processo de seleção na empresa foi rigoroso. Para conseguir uma das sete vagas disponíveis, ele foi escolhido entre 5 000 postulantes. Atualmente, mora em Macaé e vem ao Rio passar os fins de semana na casa dos pais. Nessas ocasiões, pratica surfe e futevôlei, esportes pelos quais é apaixonado. “Viver longe daqui é um sacrifício, mas vale a pena. As empresas têm apostado muito em nós”, afirma ele.

Eduardo Antonello 35 anos - Em menos de dez anos, tornou-se presidente para a América Latina de um gigante norueguês do petróleo. Nas folgas, veleja e passeia com sua moto BMW

Ao iniciar a carreira em um patamar tão alto, a geração petróleo tem grandes chances de chegar ao topo mais rápido. Não são pequenas as possibilidades de, em dez anos, rapazes e moças como Flávia, João, Marina e Bernardo ocuparem posições no primeiro escalão nas companhias em que trabalham. Foi exatamente esse o caminho percorrido por Eduardo Antonello, 35 anos, atual presidente para a América Latina da norueguesa Seadrill, uma das maiores empresas do ramo de perfuração. No fim dos anos 90, quando os cursos atuais ainda não existiam, ele se matriculou em engenharia mecânica no Mackenzie, em São Paulo. Entusiasmado com a expansão do setor, ingressou na francesa Schlumberger. Sem uma formação acadêmica específica, Antonello construiu sua trajetória no exterior, vivendo em seis países ao longo de oito anos. Aos 24, por exemplo, morava no Catar. Aos 30, tornou-se chefe de perfuração no Brasil. Dois anos depois, foi contratado para o cargo atual. Morador do Leblon, casado com uma colega de profissão egípcia e pai de Ísis, ele é o decano dessa turma. Nos momentos de folga, gosta de velejar. Quando o tempo é maior, pega sua moto de trilha, uma BMW Adventure de 1 200 cilindradas, e troca o mar pelas estradas de terra. “É uma profissão complexa, que exige muito do profissional, mas compensa”, conta. “Especialmente para quem está disposto a entender todo o processo, do poço ao posto de gasolina.”

Bernardo Pestana 25 anos - Membro da primeira turma da UFRJ e contratado da OGX, sonha em ter um haras. Os primeiros cavalos serão comprados em reve por 20 000 reais cada um


Embora a indústria do petróleo tenha mais de quarenta anos, pode-se dizer que ela nunca esteve em melhor forma, tão rejuvenescida. Embaladas pelo pré-sal, as universidades públicas e privadas mudaram seus conceitos, apostando na formação de mão de obra específica e aumentando o volume de pesquisas na área. Os estudos sobre o tema são, inclusive, responsáveis por um substancial crescimento da produção acadêmica nacional.

Recentemente, o país subiu da 19ª para a 13ª posição na publicação de trabalhos científicos — à frente de Holanda, Suíça e Israel. Em paralelo, o parque tecnológico da Ilha do Fundão, que fica próximo da Coppe e também do Cenpes, o Centro de Pesquisas da Petrobras, está recebendo uma enxurrada de investimentos. Entre as empresas que já anunciaram a instalação de polos por lá estão a americana General Electric e a francesa Schlumberger. Todo esse movimento deve trazer cerca de 3 bilhões de reais em investimentos e mais 4 500 empregos de altíssimo nível nos próximos dois anos. Resume o secretário municipal de Desenvolvimento, Felipe Goes: “Se minha filha estivesse prestando vestibular, não hesitaria em aconselhá-la a seguir essa carreira”. Para quem está disposto a sujar as mãos e trabalhar duro, é sem dúvida um excelente caminho.

Fonte: Veja Rio (por QG do PETRÓLEO)

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