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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um universo de negócios em alto mar


Por FERNANDO SCHELLER , ENVIADO ESPECIAL / , PLATAFORMA CIDADE DE ANGRA , DOS REIS, A 300 KM DA COSTA, estadao.com.br,
O helicóptero da BHS, após uma hora e vinte minutos de viagem a partir do aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, aproxima-se da plataforma Cidade de Angra dos Reis, a primeira do pré-sal a entrar em operação comercial. Construída na China, a embarcação fica estacionada, presa ao fundo do mar a 300 km da costa do Rio de Janeiro. A Petrobrás aluga a plataforma, operada pela japonesa Modec. Os 70 funcionários são alimentados pela italiana Fratelli Cosulich. De tempos em tempos, a plataforma recebe a visita de pessoal da consultoria brasileira CDS e das americanas InterMoor e BJ Services - todas prestadoras de serviço da unidade de produção de óleo e gás.
De cima, a embarcação - um cargueiro japonês construído em 1991 e convertido em plataforma de petróleo entre 2008 e 2010, na China - parece uma 'tubolândia'. Andando pelos cinco pavimentos da embarcação, um emaranhado de motores, caldeiras e reservatórios cheios de instruções de segurança, o visitante se vê cercado pelos maiores expoentes da indústria pesada mundial. Os adesivos colados nos equipamentos estampam marcas como a americana GE, a alemã Siemens e a brasileira Weg. Plataforma de petróleo é um território de briga de cachorro grande. E todos eles estão de olho nas oportunidades que o setor reserva nos próximos anos.
Banhada por quilômetros de mar azul, a plataforma Cidade de Angra dos Reis é o 'marco zero' da produção comercial de petróleo em águas ultraprofundas, a mais de 2 mil metros abaixo da superfície. A Petrobrás pretende iniciar a produção de mais quatro unidades do pré-sal entre 2012 e 2013. Cada uma exigirá investimento entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões.
Além das plataformas do pré-sal, há unidades de perfuração nos planos da estatal. Estão previstas também cinco plataformas para a área do pós-sal nos próximos dois anos. A já anunciada troca de comando da estatal - entra Maria das Graças Foster, de perfil técnico, no lugar de José Sérgio Gabrielli, que deverá seguir carreira política na Bahia - foi interpretada pelo mercado como um sinal de que os ambiciosos projetos da companhia deverão sair mais rápido do papel. Só em janeiro, as ações preferenciais da empresa subiram 18%.
As primeiras plataformas do pré-sal serão terceirizadas, alugadas de empresas como a japonesa Modec e a holandesa SBM (o Estado apurou que o valor diário pago pela Petrobrás por um equipamento como esse gira em torno de US$ 500 mil). No entanto, a construção de pelo menos outras sete plataformas próprias da Petrobrás já entrou no radar das grandes indústrias. São os projetos batizados de P-67 a P-73. De acordo com Welter Benício, diretor da divisão de óleo e gás da Siemens no Brasil, a empresa está definindo sua estratégia de preço para essa concorrência, que deverá sair nos próximos seis meses.
Corrida. De olho em gordos contratos no horizonte, a Siemens se movimenta para definir investimentos. A subsidiária local do grupo alemão avalia a possibilidade de instalar uma unidade para montagem de módulos elétricos no estado do Rio de Janeiro para complementar a capacidade instalada em seu polo industrial de Jundiaí (SP), que concentra nove fábricas. 'O valor vai depender do nosso sucesso em conseguir contratos', explica Benício. 'É difícil dizer a evolução disso, já que cerca de 15 empresas estarão na disputa.'
A brasileira Weg fez uma aquisição mundial pensando no setor de óleo e gás: comprou a Eletric Machinery de uma de suas principais rivais, a GE. Trata-se de uma aquisição de valor relativamente baixo, segundo o presidente da Weg, Harry Schmelzer Jr. Mas o negócio trará ao Brasil conhecimento tecnológico extra na disputa de contratos para fornecimento de motores e geradores para a Petrobrás. A Weg pretende ganhar espaço dentro do setor de óleo e gás, que hoje representa cerca de 5% do faturamento anual de R$ 6 bilhões. 'Queremos estar preparados para entregar as especificações exigidas por este mercado.'
Embora tenha sido obrigada a abrir mão da Eletric Machinery por restrições concorrenciais, a GE ganhou espaço no mercado mundial de óleo e gás ao comprar, por US$ 1,3 bilhão, a fabricante de tubos para produção de energia Wellstream, que já tinha uma fábrica em Niterói (RJ). Agora, a americana pretende investir mais US$ 200 milhões na ampliação da unidade.
Com presença ainda discreta no Brasil, a Rolls-Royce aumentou a aposta no País após o anúncio dos investimentos na exploração do pré-sal. A empresa prevê investir US$ 200 milhões no Brasil até 2013 - metade deste valor será aplicado em uma fábrica na capital fluminense. O grupo americano, mais conhecido pelos carros de luxo, cuja produção foi repassada à BMW em 1997, fatura US$ 700 milhões ao ano na América do Sul (em comparação, a GE teve receita de US$ 2,6 bilhões, somente no Brasil, em 2010). 'Nosso objetivo é dobrar de tamanho na região até 2020. E a maior parte desse crescimento virá do Brasil', diz Francisco Itzaina, presidente da Rolls-Royce para a América do Sul.
A Rolls-Royce, a exemplo da GE, vai aumentar seu porte no mercado brasileiro graças a uma aquisição internacional - a empresa comprou, em uma joint venture com a Daimler, a operação da fabricante de turbinas e motores alemã Tognum, em uma operação avaliada em 3,2 bilhões. A Tognum está presente no País por meio de uma de suas subsidiárias, a MTU. A Rolls-Royce também mandou um time de brasileiros aos Estados Unidos para avaliar produtos que poderão ser montados em território brasileiro - o objetivo é garantir o cumprimento das metas de conteúdo local estabelecidas pela Petrobrás.
Serviços. No entanto, a vida a 300 km do continente não é feita só de máquinas e equipamentos. Há serviços destinados aos momentos de folga que os funcionários têm na plataforma. Os trabalhadores, que passam 14 dias sem pisar em terra firme, são atendidos por empresas que preparam refeições, limpam os quartos e pensam em opções de entretenimento a bordo.
A GRSA, mais conhecida pela administração de restaurantes coletivos, entrou no setor off shore há dois anos e teve de diversificar os serviços oferecidos para disputar contratos em plataformas, que já representam 10% de sua receita no País. Além de garantir cinco refeições diárias aos embarcados, a empresa arruma os alojamentos, que são individuais ou duplos, e cuida até dos filmes que os funcionários vão assistir. A GRSA, hoje presente em 11 plataformas de petróleo, pretende estar em 20 unidades até o fim do ano.
Ao entrar e sair de uma plataforma qualquer visitante é bombardeado por informações sobre segurança: a orientação é usar sempre macacão, óculos, capacete e luvas. Ninguém passeia desavisado pela plataforma: um funcionário da Petrobrás ou da Modec é constantemente destacado para seguir o visitante aonde quer que ele vá. Diante das repetições, é quase impossível esquecer da recomendação de correr em direção aos botes salva-vidas em caso de alarme.
Apesar de todo o cuidado interno, há ainda assessoria terceirizada para garantir que todas as regras da Marinha sejam realmente cumpridas - o que abre espaço para novos contratos de fornecimento. A CDS, consultoria que tem só sete engenheiros, foi contratada pela operadora da plataforma Cidade de Angra dos Reis para conferir todo o aparato de segurança. Só para garantir que nenhum detalhe do gigante ancorado no meio do mar passe despercebido.
O trabalho do sul-africano Jerome Petersen, 35 anos, na plataforma Cidade de Angra dos Reis, é simples: ele passa o dia inteiro olhando para duas telas de computador. Funcionário da japonesa Modec, sua missão é acionar um funcionário toda a vez que um alarme disparar, apontando irregularidade de funcionamento em algum equipamento. As emergências, conta Jerome, acontecem todos os dias. Mais de uma vez.
É um sinal prático de que a exploração do petróleo em águas ultraprofundas traz desafios de segurança e meio ambiente, na opinião do consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). 'Assim como um avião não é construído para cair, mas às vezes cai, a indústria de petróleo não espera que o petróleo vaze, mas às vezes ele vaza.'
Uma outra evidência de que a atividade está sujeita a acidentes veio na semana passada. Na terça-feira, o rompimento no duto que liga o poço de produção à plataforma Dynamic Producer, que fazia testes de longa duração para definir a capacidade da área Carioca Nordeste, no pré-sal da Bacia de Santos, causou vazamento equivalente a 160 barris de petróleo no mar. Foi um acidente de pequenas proporções, em comparação a outras ocorrências - em novembro de 2011, por exemplo, um problema em um poço de petróleo da americana Chevron acarretou o vazamento de 2,4 mil barris de petróleo no campo de Frade, na Bacia de Campos.
Contenção. A Petrobrás informou que, imediatamente após o rompimento no duto, a produção do poço foi interrompida, evitando um dano ambiental mais grave. Segundo a empresa e a Agência Nacional de Petróleo (ANP), como a exploração ocorre em alto mar, não haveria chance de a mancha chegar ao litoral (o acidente ocorreu a cerca de 300 km da costa). Na sexta-feira, a companhia anunciou que havia concluído o recolhimento do óleo e que iniciaria o monitoramento ambiental da área.
Especialistas ponderam que a decisão do governo de conceder à estatal o status de operadora de todas as reservas do pré-sal traz embutido um potencial fardo jurídico. O gerente de operações da Petrobrás para o campo de Lula, Humberto Americano Romanus, explica que a empresa responde por todas as ocorrências das plataformas, mesmo aquelas operadas por terceiros como a japonesa Modec ou a holandesa SBM. O Ministério Público Federal (MPF) informou na última quarta-feira que abriria investigação para apurar se a Petrobrás deverá ser responsabilizada pelo vazamento de óleo.
Para Adriano Pires, a exploração do pré-sal traz desafios tecnológicos ainda desconhecidos. Trata-se de uma nova fronteira, sujeita a problemas a problemas não enfrentados anteriormente. Ele diz que está na hora de a segurança ambiental entrar na pauta. 'O governo mudou o marco regulatório, mexeu nos royalties e criou uma estatal. Mas não falou uma palavra sobre os efeitos para o meio ambiente.' / F.S.

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